Por Augusto Damineli, com Thereza Venturoli
Quinta-feira, 3 de novembro de 1994. Faltam quinze minutos para as onze horas da manhã, na cidade de Foz do Iguaçu, no Paraná. Em qualquer dia normal, o sol de primavera já estaria brilhando bem acima do horizonte. Mas, este não é um dia normal. Às 10h44, a Lua se coloca entre o Sol e impede que sua luz atinja uma parte da superfície terrestre.
A gigantesca sombra, com 200 quilômetros de diâmetro, progride a cerca de 3 000 quilômetros por hora do Oceano Pacífico para a América do Sul, entra no Brasil por Foz do Iguaçu e sai para o Oceano Atlântico, sobre a divisa dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. É a chamada faixa de totalidade — o trecho da Terra que recebe em cheio a sombra da Lua. De um lado e de outro dessa faixa, uma penumbra se estende sobre boa parte do continente sul americano.
Fenômenos como esse acontecem pelo menos duas vezes ao ano. Mas raramente no mesmo lugar. E é isto que faz este eclipse tão fantástico: muita gente vai ver.Como Foz do Iguaçu, outras cidades localizadas na faixa de totalidade, ao sul do país, vão mergulhar numa curta noite em plena manhã.
Nessa região, o ritmo da natureza vai mudar: o céu vai ficar tão escuro que será possível ver as estrelas. Os animais vão ficar agitados e os pássaros vão se recolher aos ninhos. As flores sensíveis à luz, como a “dama-da-noite”, vão se abrir.
No resto do país, o eclipse será parcial. Somente uma parte do Sol desaparece. É que quem se afasta da faixa de totalidade vê a Lua cada vez mais de perfil, cruzando uma porção menor da esfera luminosa.
Fique atento às dicas para acompanhar o jogo de esconde-esconde da Lua e do Sol: como ver e registrar, que cuidados tomar e o que os cientistas pretendem estudar no eclipse. Aproveite. Porque o próximo eclipse total no Brasil, só no ano 2046.
A porção do Sol que se vê ocultada depende da distância da região à chamada faixa de totalidade, no sul do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, a cerca de 750 quilômetros da faixa de totalidade, vê-se no máximo 85% do Sol en-coberto. Em Recife, muito mais distante, a fração escondida não passa de 23%.
No centro da faixa de totalidade, o eclipse total dura cerca de 4 minutos. Mas, desde o momento em que a Lua começa a fazer sombra até o final do fenômeno, decorrem de duas a duas horas e meia. Nas demais regiões.
Os estudos realizados pelo Comitê Científico do Eclipse de 1994, coordenado pelo astrônomo Oscar Matsuura, do Instituto Astronômico e Geo-físico, da Universidade de São Paulo (IAG/USP) demonstram que, nos locais de eclipse total, as melhores probabilidades de céu limpo estão na direção do interior, ou seja, mais próximo de Foz do Iguaçu. Mas, como é muito difícil fazer qualquer previsão com muita antecedência, a melhor dica é acompanhar o “homem do tempo” nos noticiários de rádio e TV da vés-pera do eclipse e fazer figa para São Pedro colaborar.
Para quem pretende viajar até a faixa de totalidade, outros fatores, como infra-estrutura de hospedagem e facilidade de acesso devem ser levados em conta na hora de escolher o melhor ponto de observação. Para garantir que você não terá de dormir ao relento, é aconselhável se informar sobre outras possibilidades de abrigo, antes de arrumar as malas.
O próximo eclipse total ocorrerá em 1º de agosto de 2008 e será visto no norte do Canadá, Groenlândia, Sibéria, Mongólia e norte da China. Sua duração será de dois minutos.
Um dos eclipses mais longos ocorrerá em 22 de julho de 2009 e terá duração total de mais de seis minutos, visto de um ponto no Oceano Pacífico.
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